02.09.2014
Site Brasil de Fato
Alipio Freire
O grande capital internacional, a direita e os oportunistas
nativos querem comemorar
os 50 anos de 64, com um novo golpe.
Não há mais o que esconder.
Todos os motivos nos levam a não mais usar meias palavras: a
queda do Cessna que levava o candidato do PSB à Presidência da República foi um
atentado. O ex-governador de Pernambuco, Eduardo Campos, foi assassinado.
A grande mídia comercial do Brasil, bem como a
internacional, enterrou o assunto - festejam o crescimento da emergente Marina
Silva como cabeça de chapa, e não se perguntam sobre a "providência
divina" que causou a queda do avião. Um acidente sem motivos é o dogma.
Pelo menos até que venha a público (nos próximos 30 dias) o laudo da Comissão
responsável pelas investigações. Depois disto - quando o laudo
"comprovar" o dogma, este passará a ser uma verdade científica.
(Orai por nós, doutor Augusto Comte. Orai, pois é muita
bandeira. É overdose de "Ordem e Progresso")
Se assim for, ao fim e ao cabo restará uma pergunta retórica
ficcional, do tipo:
Eram os deuses astronautas?
Quem matou Odete Roithman?
Passados 20 dias do desastre, ninguém mais discute sua
origem, ou busca uma explicação. Aliás, a data do "acidente" foi
muito bem escolhida: 13 de agosto - infelizmente para os organizadores do
sinistro, não era uma sexta-feira. Mas 13 de agosto, por si só, já é "um
dia de azar", üm dia aziago" - e tudo poderá ficar explicado através
do mágico: talvez uma ação de "forças espirituais nefastas" soltas
pelo espaço, como a Aeribu Airlines, a Aerocorbeau Airlines, ou a Aircrow
Airways: urubus e corvos, batendo ponto em cumprimento da malfazeja data -
embora o sinistro melhor se assemelhe às ações da Condor Airways.
E mais: o número 13 é também o número do Partido dos
Trabalhadores.
Imaginem se o vice do candidato Eduardo Campos fosse do PT,
o alvoroço que estaria na grande mídia comercial? Diariamente manchetes...
Alguém acredita num acidente sem mandantes, no caso do avião
da Malaysia Airlines?
Alguém é capaz de acreditar que o avião da Air Malasya teria
caído por influência de forças espirituais maléficas, ou apenas em consequencia
do Desejo Divino?
Terá o Divino desejos que - alimentados por sádicos fetiches
- exigem sangue e fogo?
Bem se vê que não somos versados em divindades.
A quem servem os dois acidentes?
Certamente aos mesmos senhores.
Que controle tem o Governo brasileiro, os partidos de matriz
de esquerda (epecialmente PT e PSB) das intermináveis investigações sobre a
causa do "acidente", das explosões de um avião cuja caixa preta nada
gravou? Que controle tem a Nação (especialmente os trabalhadores e o povo, que
formam sua imbatível e esmagadora maioria) de uma equipe acrescida de "técnicos
especialistas dos EUA", que leva a cabo os trabalhos para verificar as
causas da queda do Cessna e, sobretudo, da veracidade do laudo que venha a ser
emitido?
Das saias justas e das contradições
nas ancas das elites.
Por falar em "técnicos especialistas dos EUA",
alguém esquece que até o senhor Lincoln Gordon, embaixador dos EUA no Brasil -
que preparou o golpe de 64 - além de diplomata, era funcionário da CIA?
Alguém esquece que o senhor general Vernon Walters, adido
Militar dos EUA naquele mesmo tempo em nosso país, teve a tarefa de articular
os militares nativos para o golpe, e foi quem deu a palavra final sobre a
indicação do marechal Humberto de Alencar Castello Branco para assumir a
Presidência em nome dos golpistas?
Tudo bem que o marechal morreria dois anos depois, também de
um acidente aéreo jamais explicado - mas aí, já são das saias justas e das
contradições nas ancas das elites.
Acordemos, meus camaradas!
Acordemos, ou os mesmos de sempre comemorarão os 50 anos do
golpe em grande estilo, num grande regabofe...
Em nossa avaliação, estamos no torvelinho de uma complicada
e pesadíssima conspiração internacional, meio a um processo de golpe de Estado.
Para isto, base social interna ao nosso país é o que não
falta: o oportunismo dos partidos políticos brasileiros (já denunciado em nosso
artigo "Novo quadro político - anotações", publicado na edição 599 do
"Brasil de Fato") está aí para não nos deixar mentir. Isto, para não
falarmos de grande parcela do sindicalismo, além de diversas outras
organizações e movimentos de trabalhadores e do povo, somado a ONGs, OSCIPs,
etc. - muitos dos quais cooptados por esses mesmos partidos, sem exceção.
Some-se ao quadro, a prática política da troca de
"dossiês" para a troca de silêncios.
Ainda que sem qualquer patriotagem, ufanismo ou estupidez do
gênero, não podemos esquecer o peso do Brasil em termos mundiais, sobretudo no
Cone Sul das Américas. Seja do ponto de vista econômico, político e, por isto
mesmo, para a geopolítica das grandes potências.
Do nosso ponto de vista, a conpiração já se manifestou em
junho do ano passado (2013), episódio que muitos camaradas entenderam e
prosseguem entendendo como um "ascenso dos movimentos dos trabalhadores e
do povo", mesmo apesar do Dia Nacional de Luta convocado pelas centrais
sindicais e vários movimentos naquele então haver sido um fiasco.
Comparemos: o Comício da Central do Brasil (convocado pelo
presidente João Goulart e realizado em 13 de março de 1964) reuniu, numa única
praça, cerca de 200 mil pessoas, num momento em que o país tinha cerca de 50 ou
60 milhões de habitantes. Já o Dia Nacional de Luta do ano passado, somando
todas as manifestações em todo o Brasil (hoje com mais de 200 milhões de
habitantes), chegou a 150 mil pessoas. Nada mais a argumentar.
A propósito: o comício convocado pelo presidente Goulart não
foi capaz de sustar o golpe em curso, que seria consumado 18 dias depois.
Frente a isso, porém, o triunfalismo, a apoteose mental, o
baluartismo (como dizíamos outrora), o simples e rastaquera oportunismo de uns
poucos camaradas da nossa esquerda, consideram junho de 2013 um grande
"ascenso das masssas"!!! Para tanto, esquecem os fatos, minimizam ou
jogam para baixo do tapete as manipulações, estímulos e apoios reais da direita
que envolveram o episódio, iniciado apenas com as manifestações do Movimento
Passe Livre (como tem acontecido todos os anos naquele período), e que se
desdobraram na campanha contra a presidenta Dilma Rousseff que se estendeu até
e durante toda a Copa.
Vivemos num mundo onde, não apenas tudo é possível, como - o
que é pior - tudo é permitido.
O pior dos mundos.
Entre as manifestações daquele junho - não sabemos se os
leitores se recordam pelo menos de dois episódios: além do fato do
"Estadão" on line ter feito um apelo no sentido de que todos os que
tivessem wi-fi, os disponibilizassem para a convocação das manifestações, houve
até a campanha do "Change Brazil", nos EUA, estrelada por Lady Gaga,
suas gaguetes e outras chesters; por Mark Zuckerberg - dono do fez-se-buque; e
por um industrial estadunidense com negócios no Rio, cujo nome agora nos foge.
O contraponto mínimo a tudo isto, que se esperava, era que o
nosso PT nos oferecesse uma análise dos acontecimentos, e apontasse um Norte
político. Doce ilusão. O silêncio político do PT foi total (ainda que com idas
e voltas) e os personagens do partido e dos seus Governos que se manifestaram,
teriam feito melhor se houvessem permanecido calados: o prefeito petista de São
Paulo, Fernando Haddad, que estava em Paris, rivalizou com o senhor Geraldo
Alckmin (também em Paris naquele momento), no que diz respeito a clamar por
mais repressão - errou de foto para a qual pretendeu posar; e o ministro José
Eduardo Cardozo ofereceu tropas federais (na ocasião, escrevemos e publicamos
artigo a respeito). As atitudes do prefeito Haddad e do ministro Cardozo só se
justificariam se eles tivessem (e expusessem publicamente) informações sobre
alguma conspiração em andamento.
Entrementes, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva - que
se pretende a maior liderança popular do nosso País - sumiu do Brasil, tendo
sido encontrado (por habilidade e "inconveniência" do jornalista
Flávio Aguiar) participando de uma reunião secreta de chefes de Estado e
banqueiros, em Berlim. Reapareceria dias depois (desta vez não mais
"incógnito") dando uma entrevista para o "New York Times".
E foi meio a toda essa "geléia" que surgiram as primeiras
manifestações do "Volta Lula".
Change Brazil = volta Lula? - até hoje não nos ficou claro.
Alguém acredita na eclosão espontânea da Primavera Árabe
e/ou na versão de que tudo foi consequencia apenas da ação das redes sociais?
Alguém comprova que o cadáver jogado ao mar pelas forças
militares estadunidenses seria mesmo do terrorista Bin Laden - conforme
divulgou a mídia "democrática, ocidental e cristã"?
Alguém concorda que as lutas de resistência dos povos que
têm seus países invadidos pelos EUA e seus parceiros, são "ações de
rebeldes"?
Glosamos todos e cada um desses fatos e episódios em nossos
artigos ao longo de então (junho de 2003) até semana passada. Está tudo
devidamente registrado.
Bacon - o filósofo inglês, afirmava há séculos que,
"Embora nem tudo seja permitido, tudo é possível", uma visão que
consideramos otimista nesta fase neoliberal do capitalismo, quando vivemos num
mundo onde, não apenas tudo é possível, como - o que é pior - tudo é permitido.
O pior dos mundos.
Um mundo no qual cai - até hoje inexplicável e
inexplicadamente - o avião do candidato Eduardo Campos, colocando de pernas
para o ar e de cabeça para baixo todo um processo eleitoral, e tudo segue
placidamente seu curso "natural": simplesmente o candidato Campos é
substituído por sua vice que, sempre ávida de estar por toda parte e sair em
todas as fotos, não viajou com o cabeça de sua chapa, apesar dele haver
insistido - conforme foi noticiado no dia seguinte ao seu assassinato.
Para acobertar melhor a explicação ainda não dada a respeito
da queda do Cessna, o avião viraria assunto na grande mídia, numa investigação
sobre sua propriedade, origem e dinheiro da compra, leasing, ou aluguel.
Obviamente, tudo isto recaindo nas costas do candidato morto, uma vez que a
dona Marina é uma Santa, uma Pura, e jamais soube de nada.
Ainda bem que Teresa, uma nossa amiga de Lisboa, já nos
havia explicado: "O trauma é o melhor amigo do homem".
Aliás, numa fala enviesada na tentativa de responder o
motivo pelo qual não estava a bordo no Cessna no dia do acidente, e ao mesmo
tempo se manter distante das investigações a respeito da propriedade do avião,
a senhora Marina Silva declarou ao jornal O Estado de São Paulo (02.09.2014),
que tem medo "mesmo de avião de carreira", e que entrou "apenas
seis vezes no jato usado por Eduardo Campos". Todo esse medo, confessou à
repórter Sonia Racy, se origina "de dois traumas na Amazônia".
(Ainda bem que Teresa, uma nossa amiga de Lisboa, já nos
havia explicado: "O trauma é o melhor amigo do homem").
Mas, não esqueçamos de juntar as pontas: um avião de
propriedade obscura (e de explicação confusa) completa muito bem o quadro de um
acidente inexplicado e sem gravação na caixa preta. Ou estamos errados?
Aliás, parece-nos que o hit agora é não juntar pontas.O
neoliberalismo imprescinde da pós-modernidade. É tudo fragmento; tudo acaso -
"just because". "Sabe, bicho, pintou... daí, cara, rolou".
- "Demorô!"
Em política, as coincidências crescem ou diminuem na razão
direta do crescimento ou diminuição das conspirações.
Por exemplo: até o momento, ninguém - pelo menos em público
- se perguntou sobre o fato de o ex-presidente do Superior Tribunal Federal,
doutor Joaquim Barbosa (que a aposentadoria o tenha!), ter mandado encarcerar
os petistas acusados e condenados por um "mensalão" (que não houve
enquanto tal), sem os permitir trabalhar fora do presídio, e o direito de
prisão domiciliar de um deles (por motivo de doença), num momento que coincidia
exatamente com período anterior às articulações de candidaturas presidencias.
Na outra ponta, o mesmo doutor Barbosa, os liberaria para o trabalho fora do
presídio e para a prisão domiciliar, tão logo acabaram as convenções
partidárias... Esta segunda ponta, também por coincidência, acompanhada do
pedido de aposentadoria do juiz Barbosa, exatamente no auge da disputa da Copa,
quando todas as atenções estavam voltadas para o torneio, e os atos do
estriônico e circense presidente do STF passaram desapercebidos da opinião
pública.
Ora, independentemente das opiniões políticas e/ou morais a
respeito do ex-ministro e ex-presidente do PT José Dirceu de Oliveira e Silva,
do ex-presidente partidário José Genoíno Neto, ou do ex-tesoureiro do Partido
dos Trabalhadores, Delúbio Soares, todos havemos de concordar que são três grandes
articuladores políticos. Mas - Que pena! - por mera coincidência, ficaram
alijados exatamente no momento crucial dos conchavos e decisões dos partidos
sobre a sucessão... Mas, felizmente, foram atendidos em seus direitos depois de
passado o perigo das convenções partidárias.
Não esquecemos que em dois ou três dos nosso artgos,
perguntamos a serviço de quem e do que estaria o doutor presidente Barbosa, e
quem estaria por detrás de suas atitudes.
Assim acreditamos poder pensar e dizer sem medo de errar: em
política, as coincidências crescem ou diminuem na razão direta do crescimento
ou diminuição das conspirações.
Repetimos a pergunta, agora acrescida:
Alguém acredita num acidente sem mandantes, no caso do avião
da Malaysia Airlines?
Se não acredita, alguém aceita a hipótese de que tenha sido
o presidente russo Vladimir Putin quem mandou derrubar a aeronave?
E as Torres gêmeas de Nova York?
E o Incêndio do Reichstag - quem ordenou tocar fogo no
Parlamento alemão em 27 de fevereiro de 1933, incinerando a República de Weimar
e, no início do ano seguinte, e marcarcando a ascensão de Hitler e do seu
partido?
Enquanto isto, um bando de pacóvios da esquerda, esquecidos
de que devemos conspirar, acreditam que os inimigos e adversários não o fazem:
tudo em nome de que "não podemos ter um visão conspirativa da
História" - verdadeiras virgens: donzeis e donzelas! Uns repetem esse
refrão (ou será um mantra?) por absoluta ignorância; outros, sem dúvida, por
terem o rabo preso. Ora, não ter uma visao conspirativa da História, não
implica concluir que os adversários e inimigos não conspiram, nem nos deve
levar a esquecer/abrir mão de conspirar.
Mais ainda: condicionados a um modelo de golpe de Estado que
pressupõe a intervenção direta das Forças Armadas - como os que ocorreram nos
anos 1960-1970 especialmente no Cone Sul (ainda que não apenas), muitos
camaradas têm dificuldade de localizar e perceber o significado dos novos
mecanismos que vêm sendo utilizados no presente pelo grande capital
internacional, para seus golpes de Estado.
Para reforçar o que vimos dizendo, citamos o artigo
"Brasil. Como sobreviver?" do economista
Adriano Benayon, filiado ao PSB.
Para reforçar o que vimos dizendo, citamos o artigo
"Brasil. Como sobreviver?" (01.09.2014) do economista Adriano Benayon,
filiado ao PSB, que recebemos enquanto escrevíamos este texto.
Com razão e fundamento, depois de toda uma análise das
articulações econômicas e políticas, ele afirma:
"De fato, estamos diante de um golpe de Estado
perpetrado por meios aparentemente legais, incluindo as eleições. Parafraseando
o Barão de Itararé, há mais coisas no ar, além da explosão de avião contratado
por um candidato em campanha. (grifos do Autor)
"(...)
"Golpes de Estado podem ser dados através de
parlamentos, poderes judiciários, além de lances como os que estão em
andamento. Agora, a moda adotada pelo império angloamericano, como se viu em
Honduras e no Paraguai, na suposta primavera árabe, na Ucrânia etc., é promover
golpes de Estado, sem recorrer às forças armadas, as quais, de resto, no
Brasil, têm sido esvaziadas e enfraquecidas, a partir dos governos dirigidos
por Collor e FHC".
Resta-nos apenas uma dúvida: a senhora Marina é o plano pra
valer dos conspiradores, ou apenas um atalho para voltar a um Plano A?
Frente a tudo isto, resta-nos apenas uma dúvida:
a senhora Marina é o plano pra valer dos conspiradores, ou
apenas um atalho para voltar a um Plano A?
Enfim, como está marcado para as vésperas da eleição o
anúncio do resultado (o laudo) das investigações sobre a origem do desastre que
matou o candidato Eduardo Campos, sua equipe e a tripulação do Cessna, quem
sabe, independentemente de qual seja o resultado, o assunto gere uma comoção e
reação social - animada por vândalos anônimos - que leve ao adiamento do
pleito, criando um interregno onde possam ser iniciadas negociações em torno de
nomes mais "consensuais" e mais confiáveis para o grande capital internacional
e suas bases sociais internas, que a senhora Marina. Candidatos não faltarão.
Quem sabe o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso repita o que fez durante o
início da abertura da segunda metade dos anos 1970 (denunciado algumas vezes
por Jânio de Freitas em sua coluna, e jamais desmentido) e se apresente - como
fez com os militares naquele então - para dirigir esta nova transação...? Tem
gente que sonha ser José Sarney a todo custo - mesmo o Príncipe dos Sociólogos,
já derrotado uma vez pelo Beletrista, pode ter uma recaída.
Como já dissemos, tudo é possível e, sobretudo, tudo é
permitido na nova ordem mundial.
Não temos qualquer dúvida, porém, que o alvo dos
conspiradores é o Governo da presidenta Dilma Rousseff e sua reeleição, e não o
PT em geral. Outros petistas de "primeira grandeza" certamente seriam
muito bem recebidos (com pompa e circunstância) no banquete dos Rothschild,
Morgan e seus pares e sócios brasileiros.
Desde o golpe de 64, o Governo da presidenta Dilma Rousseff
foi o que mais avançou em termos da defesa da nossa integridade territorial e
soberania.
O Governo da presidenta Dilma Rousseff, sem dúvida, fez uma
série de concessões aos neoliberais. Mas isto deve ser pensado num quadro real
do país e da política: a decisão das forças hegemônicas do PT de governar a
todo custo, não importando as alianças necessárias para eleger seus candidatos
e garantir suas "governabilidades"; o abandono do seu partido de uma
política de construção das organizações independentes e autônomas da classe trabalhadora
e do povo - que deveriam ser seus principais aliados e base de governabilidade;
o dever de cumprir compromissos assumidos pelo seu antecessor - como, por
exemplo, todos os acordos a respeito da Copa; e tudo isto num país rico em
matérias primas estratégicas, mas praticamente desprovido de defesa militar,
reduzidas - desde a adoção da Doutrina de Segurança Nacional, logo após o fim
da Segunda Guerra, a forças de ocupação interna do Império estadunidense e à
condição de polícias; num país que tem petróleo e nióbio (entre outras
minerações) mas não tem bomba atômica ou outros armamentos indispensáveis à
nossa defesa. Todos esses fatores juntos certamente não permitiram (e tentarão
sempre jamais permitir) rumos muito diferentes daqueles tomados pela
presidenta,, se entendemos que a luta política é ditada pela correlação de
forças, e não por vontades, desejos ou fetiches.
Entretanto, apesar de tudo isto, em nossa opinião, o Governo
Dilma Rousseff - desde o golpe de 64 - foi o que mais avançou em termos da
defesa da nossa integridade territorial, soberania e dignidade, contrariando
Washington, a banca internacional e suas bases sociais internas que não
engolem, até hoje, algumas atitudes e decisões da presidenta.
Apenas como exemplos mais recentes das decisões tomadas pela
nossa chefa de Governo e de Estado, e absolutamente intragáveis (e intragadas)
pelos ianques: o cancelamento de sua (da presidenta Dilma) viagem aos EUA,
depois da publicização da espionagem de Washington, incluindo até seus telefonemas
pessoais; a ativação do BRICS e a criação do Novo Banco de Desenvolvimento; o
fato do Pré-Sal ter começado a ser explorado e da China haver vencido o leilão
do Campo de Lira (Pré-Sal).
Também por coincidência ou por inspiração divina, a
candidata Marina Silva - assessorada e coordenada pela senhora Neca Setúbal,
herdeira do Banco Itaú (outra coincidência) - já declarou que seu Governo
diminuirá sua ação junto ao BRICS, bem como a exploração das reservas do
Pré-Sal.
Aliás, é bom lembrar que o Pré-Sal, embora descoberto pelos
brasileiros há apenas 13 ou 14 anos (segundo mandato do presidente Fernando
Henrique Cardoso), já devia ser - muito provavelmente - do conhecimento da Casa
Branca e dos seus órgãos de inteligência pelo menos desde os anos 1970, quando
o Governo do general Emílio Garrastazu Médici autorizou um completo
levantamento aerofotogramétrico do nosso território - palmo a palmo - pelo
Governo de Washington.
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Alipio Freire
jornalista, escritor, artista plástico e cineasta, integra
os Conselhos Editoriais do jornal Brasil de Fato e da Editora Expressão
Popular; é membro do Conselho Curador do Memorial da Anistia (BH-MG), e
colabora com diversas publicações populares e de esquerda.