domingo, 22 de setembro de 2013

Síndrome de paralisia hiperativa

Sérgio Braga


 o fato político mais significativo da semana, no meu modesto entender, não foi um arroubo retórico, mas uma ausência: a de qualquer menção a "julgamento do mensalão" ou "indignação contra a corrupção endêmica" no programa de lançamento da candidatura Aécio Neves pelo PSDB, muitíssimo bem feito por sinal. Já vi politólogos dizerem que o candidato não tem condições sequer de chegar no segundo turno, o que acho um ledo e ivo engano como dizia o saudoso Ivan Lessa. Trata-se de dos um políticos mais talentosos que temos e que sabe onde quer chegar e como, e não um poste sem sal como José Serra e outros tucanos. Não deve de nenhuma maneira ser subestimado, como vi alguns politólogos mais eufóricos fazendo por aí, pelo menos antes de junho...

Romênia

Meio que não se fala mais no assunto, pelo menos entre os jovens. Ainda que uma amiga de facebook daquelas bandas, por conta de uma bulha com mineração de ouro, tenha postado um blog com um texto meio idiota, e com uma foto do casal Ceausescu durante o julgamento, na véspera de sua execução, o que provocou troca de ofensas até meio pesadas. De concreto, há a eterna rivalidade com os húngaros, que tem provocado alguma tensão no país, principalmente em regiões da Transilvânia de população magiar (eles fazem questão de diferenciar húngaros de magiares, que incluem romenos descendentes de húngaros e sículos, de boa população na região de Brasov), e pichações em várias cidades, mas principalmente na capital, com os dizeres "Bessarábia é Romênia", outro assunto espinhoso, já que a Bessarábia hoje é independente, é a atual República da Moldávia. Só tive oportunidade de falar de política com um parente da dona Vanna, aqui da livraria Leonardo da Vinci, que me recebeu no aeroporto e me convidou para jantar na casa dele. Como já tem uma certa idade, viveu os períodos Ceausescu e Gheorghiu-Dej; perguntei a ele se Ceausescu tinha matado muita gente, e o que me respondeu foi que até que não, não porque não quisesse, mas porque Gheorghiu-Dej já tinha matado todo mundo. Ceausescu era mais um bufão, assassino também, mas em muito menor escala do que Anna Pauker e Gheorghiu-Dej. Talvez porque não estivesse muito atento a isso, e porque as televisões dos hotéis só pegassem, de noticiário, redes mais sensacionalistas, que estavam mais preocupadas com aquele palhaço mafioso do Steaua Bucareste, que foi preso enquanto eu estava lá, não senti da parte dos romenos muito saudosismo, não. Pelo contrário, ainda têm muito ódio da Securitate, me apontavam cada prédio que tinha servido de escritório deles, e o edifício onde ficava o Quartel-General, perto do meu hotel. Acho que tirei uma foto do prédio. E uma curiosidade: a fortaleza medieval de Fagaras, que visitei, e onde tirei muitas fotos, no tempo do Gheorghiu-Dej, lá pelos anos 50, serviu de prisão e centro de torturas e lavagem cerebral. Isso depois que os dirigentes comunistas saquearam o castelo, levando ou destruindo peças históricas e obras de arte valiosíssimas. Reconstruíram o museu a duras penas, bem mais pobre e mobiliado com réplicas dos móveis originais. Visitei e fotografei o museu, a fortaleza e a torre medieval onde funcionavam as celas dos prisioneiros dos comunistas. Segundo o parente da dona Vanna, os romenos nunca foram comunistas, como um todo, é claro, consideravam os soviéticos invasores, daí a polícia secreta comunista mais temida ter sido a Securitate, cujos agentes foram caçados pelas ruas durante a revolução de 89. Mas, por outro lado, sabe como é, era temida porque tinha agentes por toda a parte, principalmente nas instituições mais corruptas do país, como a Igreja Ortodoxa...
André Luis Moreira