Meio que não se fala mais no assunto, pelo menos entre os
jovens. Ainda que uma amiga de facebook daquelas bandas, por conta de uma bulha
com mineração de ouro, tenha postado um blog com um texto meio idiota, e com
uma foto do casal Ceausescu durante o julgamento, na véspera de sua execução, o
que provocou troca de ofensas até meio pesadas. De concreto, há a eterna
rivalidade com os húngaros, que tem provocado alguma tensão no país, principalmente
em regiões da Transilvânia de população magiar (eles fazem questão de
diferenciar húngaros de magiares, que incluem romenos descendentes de húngaros
e sículos, de boa população na região de Brasov), e pichações em várias
cidades, mas principalmente na capital, com os dizeres "Bessarábia é
Romênia", outro assunto espinhoso, já que a Bessarábia hoje é
independente, é a atual República da Moldávia. Só tive oportunidade de falar de
política com um parente da dona Vanna, aqui da livraria Leonardo da Vinci, que
me recebeu no aeroporto e me convidou para jantar na casa dele. Como já tem uma
certa idade, viveu os períodos Ceausescu e Gheorghiu-Dej; perguntei a ele se
Ceausescu tinha matado muita gente, e o que me respondeu foi que até que não,
não porque não quisesse, mas porque Gheorghiu-Dej já tinha matado todo mundo.
Ceausescu era mais um bufão, assassino também, mas em muito menor escala do que
Anna Pauker e Gheorghiu-Dej. Talvez porque não estivesse muito atento a isso, e
porque as televisões dos hotéis só pegassem, de noticiário, redes mais
sensacionalistas, que estavam mais preocupadas com aquele palhaço mafioso do
Steaua Bucareste, que foi preso enquanto eu estava lá, não senti da parte dos
romenos muito saudosismo, não. Pelo contrário, ainda têm muito ódio da
Securitate, me apontavam cada prédio que tinha servido de escritório deles, e o
edifício onde ficava o Quartel-General, perto do meu hotel. Acho que tirei uma
foto do prédio. E uma curiosidade: a fortaleza medieval de Fagaras, que
visitei, e onde tirei muitas fotos, no tempo do Gheorghiu-Dej, lá pelos anos
50, serviu de prisão e centro de torturas e lavagem cerebral. Isso depois que
os dirigentes comunistas saquearam o castelo, levando ou destruindo peças
históricas e obras de arte valiosíssimas. Reconstruíram o museu a duras penas,
bem mais pobre e mobiliado com réplicas dos móveis originais. Visitei e
fotografei o museu, a fortaleza e a torre medieval onde funcionavam as celas
dos prisioneiros dos comunistas. Segundo o parente da dona Vanna, os romenos
nunca foram comunistas, como um todo, é claro, consideravam os soviéticos
invasores, daí a polícia secreta comunista mais temida ter sido a Securitate,
cujos agentes foram caçados pelas ruas durante a revolução de 89. Mas, por
outro lado, sabe como é, era temida porque tinha agentes por toda a parte,
principalmente nas instituições mais corruptas do país, como a Igreja
Ortodoxa...
André Luis Moreira