terça-feira, 11 de fevereiro de 2014



Penso que existem diferentes violências oriundas de diversos lugares na sociedade, mas me parece que todas elas se unificam a partir de um lugar: o Estado brasileiro. Seja pela presença seja pela ausência, o Estado brasileiro é fonte/incentivo à violência. Quando ausente, cria uma estrutura de oportunidades para que a barbárie entranhada na sociedade brasileira se manifeste, como no caso do garoto amarrado ao poste; quando se faz presente, humilha a população pela ineficiência ou pela repressão. Na minha opinião, o problema da reforma do Estado brasileiro, para além da bobagem do Estado mínimo ou da antinomia infrutífera entre empresas estatais ou privadas, é o tema ausente mais importante da agenda política no Brasil. Reforma no sentido de, por um lado, recapacitá-lo a ser coordenador de ação coletiva e implementador de um projeto de longo prazo que transcenda o curto prazo das eleições e, por outro, no sentido de republicanizá-lo, de colocá-lo a serviço da população e não contra ela. Mas para isso, seria preciso um pacto entre lideranças políticas e forças socioeconômicas em nome de um projeto de longo prazo. Quem seria capaz de encaminhar isso?

Renato Perissinotto

Não é por falta de leis que criminosos ficam impunes no Brasil. Qualquer estudante de primeiro ano de Direito sabe apontar exatamente em quais leis, artigos, parágrafos e alíneas enquadrar, por exemplo, o assassino do cinegrafista Santiago Andrade ou os mascarados que incendiaram um fusca em São Paulo. Como sabe, igualmente, dizer os delitos dos policiais que torturaram, mataram e desapareceram com Amarildo, dos políticos que traficam drogas ou dos juízes que passeiam pela Europa custeados pelo dinheiro público.

Defender uma lei “antiterrorista” nada mais é do que fazer média com aqueles que sempre pedem mais repressão, abrir as portas para uma intensificação da violência policial e alimentar a suspeição sobre qualquer legítima manifestação popular. É lamentável o esforço que alguns dos nossos fazem para ficar parecidos com aqueles que sempre combateram.

Roberto Elias Salomão