Ricardo Kotscho
Passaram-se já mais de 48 horas desde que veio a público o
"vazamento" da delação premiada feita à Polícia Federal pelo
ex-diretor da Petrobras Paulo Roberto Costa, em nova tentativa de alterar os
rumos da campanha presidencial, com base em denúncias sobre um esquema de
corrupção montado na empresa por políticos e partidos da base aliada do governo
Dilma Rousseff, atingindo também o PSB da candidata Marina Silva.
É bastante estranho o silêncio mantido até o momento, manhã
de segunda-feira, pelo ministro da Justiça, José Eduardo Cardoso, e a Polícia
Federal a ele subordinada, como se fosse a coisa mais normal do mundo um
"vazamento" destas proporções, sem qualquer prova, baseado em fontes
anônimas, a quatro semanas da abertura das urnas, sabendo-se que este processo
está submetido a segredo de Justiça e os áudios e vídeos da delação devem ser
criptografados e mantidos num cofre forte.
Ao terminar de escrever a coluna de domingo, sobre as
consequências nas campanhas presidenciais destas graves denúncias lançadas no
ar, ficou martelando na minha cabeça uma dúvida: ninguém vai explicar ou pelo
menos procurar saber em que condições e a serviço de quem se deu mais este
explosivo "vazamento", mais conhecido por "bala de prata",
que já se tornou comum em vésperas de eleição em nosso país? Ninguém se dignou
a questionar este ponto entre as dezenas de análises que li sobre o assunto e
seus desdobramentos ou a indagar quem pode ter vazado estas
"informações".
Dá-se de barato que estas denúncias realmente existem, que o
delator só falou a verdade e tem provas do que disse, mas o que temos por
enquanto é apenas mais um factoide midiático explorado à exaustão pelo esquema
Veja-Globo-Folha-Estadão, e seus respectivos portais, com os concorrentes
retroalimentando o noticiário entre si.
Nem é preciso ser muito esperto para descobrir a quem
interessa tumultuar o processo eleitoral nesta reta final da campanha. Quando
parecia que este esquema já tinha abandonado o tucano Aécio Neves à sua própria
sorte, e aderido ao Furacão Marina, mesmo com algumas restrições, eis que o
candidato atolado em terceiro lugar ressurge das cinzas no noticiário, com
tanto ímpeto para atacar as duas adversárias que lideram com folga todas as
pesquisas, como se já soubesse de alguma coisa antes da anunciada
"bomba" explodir no último final de semana.
Como sabemos, as investigações sigilosas estão sob a
responsabilidade da Polícia Federal, quer dizer, de um órgão do Ministério da
Justiça, que vêm mantendo um obsequioso silêncio sobre o assunto. De que forma
nós, simples cidadãos eleitores, poderemos saber o que existe de verdade no que
vem sendo noticiado a respeito do "mar de lama da Petrobras"? Ou o
objetivo é mesmo só fazer a divulgação oficial depois de 5 de outubro, mantendo
as suspeitas no ar para a devida exploração eleitoral?
Cabe registrar aqui a previsão feita por Aécio dias atrás,
quando sua campanha definhava, baseado na experiência do seu avô Tancredo
Neves, de que as definições eleitorais só começam para valer depois do feriado
de 7 de setembro.
Tem alguma coisa estranha no ar e não são os aviões de
carreira.
Nenhum comentário:
Postar um comentário