DOAÇÕES
ELEITORAIS: “FOLLOW THE MONEY” – Por Markus Sokol
Por andremachado em 5 de setembro de 2014 às 20:44.
“Siga o dinheiro” e vai encontrar quem manda nas campanhas
A popular expressão inglesa “follow the money” (siga o
dinheiro) é utilizada para encontrar a origem de algum fato extraordinário. Ela
explica também muita coisa do atual quadro eleitoral do Brasil, como se deduz
das doações eleitorais feitas a partidos e candidatos.
O site do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) divulgou uma
primeira parcial da prestação de contas em que foram computadas todas as
doações, para todos os cargos, em todas as unidades da federação (OESP,
01.09.14).
A eleição mais cara da história já movimentou R$ 475 milhões
até 29 de agosto. O mais milionário dos beneficiários foi o PMDB, com R$ 109
milhões, um quarto do total!
Ele foi seguido pelo PSDB, com R$ 80 milhões, e o PSB com R$
40 milhões. Só em quarto lugar, vem o partido de maior bancada no Congresso, o
PT de Dilma, então favorita na corrida ao Planalto, com R$ 35 milhões, seguido
do PP e do PSD com R$ 30 milhões cada.
“Para que nada mude”
A vontade da maioria dos grandes doadores – algumas dezenas
de grandes empresas nacionais e internacionais (construtoras, bancos,
agronegócio, indústrias) – é clara.
No mínimo, “mudar a distribuição do poder, quando se compara
o valor arrecadado pelo PT com seu peso na Câmara”, diz o Estadão. Mudar em
favor do PMDB, o partido que participou de todos os governos federais dos
últimos 30 anos, desde o fim da ditadura (com um intervalo no breve mandato de
Collor).
O próprio jornalista, José Roberto de Toledo, diz que “a
causa é a conseqüência: não importa quem vença, o PMDB estará no poder”. E
acrescenta, “é uma conexão orgânica, institucional – do poder financeiro com o
poder de fato. Bancar o PMDB é uma maneira de assegura que nada mude”. E
conclui: “Se não reverter logo a falta de dinheiro, o partido (PT) corre o
risco de uma derrota eleitoral histórica”.
O dinheiro não é neutro, e nesta eleição multimilionária
joga para que “nada mude” e diminui para o PT que hoje, diferente dos anos 80,
em boa parte depende dessas doações: o uso do cachimbo deixa a boca torta!
A fragilização do PT é perigosa. Outra diferença importante
entre as doações ao PT e ao PMDB, é que 3 em cada 4 reais são arrecadados por
candidatos do PT, enquanto que no PMDB é o contrário: 3 em cada 4 vão para as
direções partidárias repassarem aos candidatos. Quer dizer, os doadores apostam
na desagregação do PT.
Mais que nunca, Constituinte!
A situação não é desesperadora, pois foi o próprio PT quem
levantou a luta contra o financiamento empresarial (defendendo o financiamento
público de campanhas), um ponto central da reforma política que só uma
Constituinte Soberana e Exclusiva fará. Desse Congresso dominado pelo PMDB não
se pode esperar o mesmo.
Daí, que o PT e Dilma podem fazer deste limão uma limonada:
abraçar a bandeira da Constituinte, colocá-la no centro do debate eleitoral, desde
os programas de TV, tocar o sentimento popular de repulsa ao controle
empresarial da política, frustrando assim as expectativas do Estadão e fazendo
dessa eleição, na verdade, uma “vitória histórica”.
Abrir caminho para a Constituinte, e daí para as reformas
populares, a reforma agrária, a reestatização, as verbas para o serviço público
e não para o superávit primário, é o que se espera do PT.
Markus Sokol
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