sábado, 6 de setembro de 2014

Siga o dinheiro” e vai encontrar quem manda nas campanhas

DOAÇÕES ELEITORAIS: “FOLLOW THE MONEY” – Por Markus Sokol
Por andremachado em 5 de setembro de 2014 às 20:44.

“Siga o dinheiro” e vai encontrar quem manda nas campanhas

A popular expressão inglesa “follow the money” (siga o dinheiro) é utilizada para encontrar a origem de algum fato extraordinário. Ela explica também muita coisa do atual quadro eleitoral do Brasil, como se deduz das doações eleitorais feitas a partidos e candidatos.

O site do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) divulgou uma primeira parcial da prestação de contas em que foram computadas todas as doações, para todos os cargos, em todas as unidades da federação (OESP, 01.09.14).

A eleição mais cara da história já movimentou R$ 475 milhões até 29 de agosto. O mais milionário dos beneficiários foi o PMDB, com R$ 109 milhões, um quarto do total!

Ele foi seguido pelo PSDB, com R$ 80 milhões, e o PSB com R$ 40 milhões. Só em quarto lugar, vem o partido de maior bancada no Congresso, o PT de Dilma, então favorita na corrida ao Planalto, com R$ 35 milhões, seguido do PP e do PSD com R$ 30 milhões cada.

“Para que nada mude”

A vontade da maioria dos grandes doadores – algumas dezenas de grandes empresas nacionais e internacionais (construtoras, bancos, agronegócio, indústrias) – é clara.

No mínimo, “mudar a distribuição do poder, quando se compara o valor arrecadado pelo PT com seu peso na Câmara”, diz o Estadão. Mudar em favor do PMDB, o partido que participou de todos os governos federais dos últimos 30 anos, desde o fim da ditadura (com um intervalo no breve mandato de Collor).

O próprio jornalista, José Roberto de Toledo, diz que “a causa é a conseqüência: não importa quem vença, o PMDB estará no poder”. E acrescenta, “é uma conexão orgânica, institucional – do poder financeiro com o poder de fato. Bancar o PMDB é uma maneira de assegura que nada mude”. E conclui: “Se não reverter logo a falta de dinheiro, o partido (PT) corre o risco de uma derrota eleitoral histórica”.

O dinheiro não é neutro, e nesta eleição multimilionária joga para que “nada mude” e diminui para o PT que hoje, diferente dos anos 80, em boa parte depende dessas doações: o uso do cachimbo deixa a boca torta!

A fragilização do PT é perigosa. Outra diferença importante entre as doações ao PT e ao PMDB, é que 3 em cada 4 reais são arrecadados por candidatos do PT, enquanto que no PMDB é o contrário: 3 em cada 4 vão para as direções partidárias repassarem aos candidatos. Quer dizer, os doadores apostam na desagregação do PT.

Mais que nunca, Constituinte!

A situação não é desesperadora, pois foi o próprio PT quem levantou a luta contra o financiamento empresarial (defendendo o financiamento público de campanhas), um ponto central da reforma política que só uma Constituinte Soberana e Exclusiva fará. Desse Congresso dominado pelo PMDB não se pode esperar o mesmo.

Daí, que o PT e Dilma podem fazer deste limão uma limonada: abraçar a bandeira da Constituinte, colocá-la no centro do debate eleitoral, desde os programas de TV, tocar o sentimento popular de repulsa ao controle empresarial da política, frustrando assim as expectativas do Estadão e fazendo dessa eleição, na verdade, uma “vitória histórica”.

Abrir caminho para a Constituinte, e daí para as reformas populares, a reforma agrária, a reestatização, as verbas para o serviço público e não para o superávit primário, é o que se espera do PT.

Markus Sokol


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