Grande parte das elites políticas brasileiras são oriundas
de famílias ricas e conservadoras, donas de grandes empresas ou do agronegócio,
e estão a gerações no poder (parlamentos, executivos, rádios, TVs).
Em geral, odeiam o PT. Sempre odiaram, desde a sua fundação.
Quando o PT nasceu, os oprimidos tiveram voz e passaram a disputar o poder na
sociedade, gerando o pavor dessa elite atrasada, que nunca tolerou a mais
singela participação direta ou indireta do povo.
A chegada do Lula ao poder em 2003 foi uma derrota desse
atraso. Essas elites nunca aceitaram o PT, mas parte dela aceitou o convite do
partido para compor o governo com o objetivo de assegurar por dentro a
manutenção de seus interesses.
A cúpula petista, por outro lado, entendeu que era necessário
fazer concessões a essas elites e governar sem tensões com o poder instituído.
Para isso, evitou as pautas mais radicais do partido, as reformas mais
estruturais e os debates mais polêmicos.
Havia a crença que seria possível um governo de coalizão com
essas elites e que, com isso, haveria uma certa acomodação das classes.
Ledo engano.
Nos últimos 12 anos, essas elites bombardearam o PT em duas
frentes: atacaram todas as medidas mínimas de soberania e populares adotadas
pelo Lula e pela Dilma, muitas das quais retrocederam para evitar conflitos. Ao
mesmo tempo, escancararam as deformações ocorridas no partido para torna-lo
viável nesse sistema eleitoral, como as filiações sem critérios ideológicos,
amplas alianças, fisiologismo, financiamentos eleitorais por grandes empresas.
Todos os instrumentos empresariais de formação de opinião
pertencentes a essas elites foram usados para transformar em uma novidade dos
governos petistas os problemas que há tempos são endêmicos no Estado
brasileiro, como a corrupção, a propina, o lobby.
O PT apanhou calado, em nome da “governabilidade” e das
alianças com alguns setores dessa elite conservadora.
O silêncio desarmou parte da militância, que se encolheu. O
linchamento midiático criou um sentimento anti-petista em muitos brasileiros,
mesmo que suas vidas tenham melhorado significativamente na última década.
Mas, depois de quase 12 anos de governo e faltando pouco
mais de um mês para as eleições, talvez seja o momento de reagir.
Digo talvez, porque há uma chance de ganharmos novamente a
eleição presidencial apostando na continuidade dessa estratégia do silêncio.
Mas há uma grande chance de perdermos também.
Reagir significa, evidentemente, enfatizar os avanços
sociais conquistados no três governos petistas e denunciar as políticas
antipopulares adotadas nos governos do FHC. Mas também é se comprometer com as
reformas de base que essas elites atrasadas nunca toparam, principalmente a
Reforma Agrária, a tributação sobre as grandes fortunas e a auditoria da dívida
pública.
Reagir também é propor um novo pacto com os movimentos
sociais e populares para implementar as mudanças necessárias no país, se
engajando na campanha do plebiscito popular pela Constituinte da Reforma
Política e chamando as pessoas a se mobilizarem nessa batalha.
Reagir é incendiar a base social do PT para sair às ruas,
reacendendo as esperanças de mudanças mais profundas na sociedade, dar sentidos
à política que vão além do acesso à alguns bens de consumo, por mais
importantes que sejam, e objetivos maiores para que tenham a confiança de
defender e acreditar no PT.
Reagir é mostrar que o problema do Brasil não é a falta de
elites, como afirmou a candidata Marina Silva, mas as gritantes desigualdades
sociais que persistem em nosso país.
Para impedir o retrocesso, é hora de reagir.
Fonte : Blog do André Machado
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