quinta-feira, 28 de agosto de 2014

OS DILEMAS DA CAMPANHA PETISTA



Grande parte das elites políticas brasileiras são oriundas de famílias ricas e conservadoras, donas de grandes empresas ou do agronegócio, e estão a gerações no poder (parlamentos, executivos, rádios, TVs).

Em geral, odeiam o PT. Sempre odiaram, desde a sua fundação. Quando o PT nasceu, os oprimidos tiveram voz e passaram a disputar o poder na sociedade, gerando o pavor dessa elite atrasada, que nunca tolerou a mais singela participação direta ou indireta do povo.

A chegada do Lula ao poder em 2003 foi uma derrota desse atraso. Essas elites nunca aceitaram o PT, mas parte dela aceitou o convite do partido para compor o governo com o objetivo de assegurar por dentro a manutenção de seus interesses.

A cúpula petista, por outro lado, entendeu que era necessário fazer concessões a essas elites e governar sem tensões com o poder instituído. Para isso, evitou as pautas mais radicais do partido, as reformas mais estruturais e os debates mais polêmicos.

Havia a crença que seria possível um governo de coalizão com essas elites e que, com isso, haveria uma certa acomodação das classes.

Ledo engano.

Nos últimos 12 anos, essas elites bombardearam o PT em duas frentes: atacaram todas as medidas mínimas de soberania e populares adotadas pelo Lula e pela Dilma, muitas das quais retrocederam para evitar conflitos. Ao mesmo tempo, escancararam as deformações ocorridas no partido para torna-lo viável nesse sistema eleitoral, como as filiações sem critérios ideológicos, amplas alianças, fisiologismo, financiamentos eleitorais por grandes empresas.

Todos os instrumentos empresariais de formação de opinião pertencentes a essas elites foram usados para transformar em uma novidade dos governos petistas os problemas que há tempos são endêmicos no Estado brasileiro, como a corrupção, a propina, o lobby.

O PT apanhou calado, em nome da “governabilidade” e das alianças com alguns setores dessa elite conservadora.

O silêncio desarmou parte da militância, que se encolheu. O linchamento midiático criou um sentimento anti-petista em muitos brasileiros, mesmo que suas vidas tenham melhorado significativamente na última década.

Mas, depois de quase 12 anos de governo e faltando pouco mais de um mês para as eleições, talvez seja o momento de reagir.

Digo talvez, porque há uma chance de ganharmos novamente a eleição presidencial apostando na continuidade dessa estratégia do silêncio. Mas há uma grande chance de perdermos também.

Reagir significa, evidentemente, enfatizar os avanços sociais conquistados no três governos petistas e denunciar as políticas antipopulares adotadas nos governos do FHC. Mas também é se comprometer com as reformas de base que essas elites atrasadas nunca toparam, principalmente a Reforma Agrária, a tributação sobre as grandes fortunas e a auditoria da dívida pública.

Reagir também é propor um novo pacto com os movimentos sociais e populares para implementar as mudanças necessárias no país, se engajando na campanha do plebiscito popular pela Constituinte da Reforma Política e chamando as pessoas a se mobilizarem nessa batalha.

Reagir é incendiar a base social do PT para sair às ruas, reacendendo as esperanças de mudanças mais profundas na sociedade, dar sentidos à política que vão além do acesso à alguns bens de consumo, por mais importantes que sejam, e objetivos maiores para que tenham a confiança de defender e acreditar no PT.

Reagir é mostrar que o problema do Brasil não é a falta de elites, como afirmou a candidata Marina Silva, mas as gritantes desigualdades sociais que persistem em nosso país.

Para impedir o retrocesso, é hora de reagir.


Fonte : Blog do André Machado

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