quinta-feira, 15 de dezembro de 2011

ANGELIQUE CHRISAFIS DO “GUARDIAN”, EM PARIS – FOLHA SP

As cintilantes vitrines das lojas de luxo de Paris frequentemente contrastam com a imagem de uma pessoa trêmula mendigando moedas nas imediações, encolhida por trás de uma cartolina onde se lê “fome”.

Com a economia em crise, os pobres e os moradores de rua de Paris estão mais presentes que nunca nas entradas de edifícios e do metrô.

Ativistas vêm exigindo ação quanto à crise da habitação no país.

Mas o presidente Nicolas Sarkozy, que tenta a reeleição no ano que vem, lançou uma guerra contra os mendigos.

O governo promulgou uma série de decretos que proíbem que mendigos circulem nas mais populares áreas comerciais e turísticas de Paris.

Ele diz que deter e multar os mendigos é crucial para impedir que visitantes estrangeiros sejam importunados por pedintes “delinquentes”.

A avenida Champs Elysée foi a primeira área na lista de restrições aos pedintes, no período entre setembro e janeiro, agora estendido até a metade do ano.

E duas novas zonas onde a atuação de pedintes está proibida foram criadas recentemente: em torno das famosas lojas de departamentos Printemps e Galérie Lafayette e na área do museu do Louvre e dos Jardins das Tuileries.

O governo definiu os decretos de repressão aos mendigos como parte de uma “luta impiedosa” contra a “criminalidade romena”.

As normas de repressão aos pedintes enquadram práticas como recolher dinheiro para falsas causas, algo que o governo alega costuma ser feito por meninas e adolescentes romenas.

Para ajudar a polícia na captura de mendigos na Champs Elyseés, 33 policiais romenos foram contratados.

Mas o prefeito de Paris, Bertrand Delanoe, o mais popular político da França, definiu as medidas como “um golpe barato de relações públicas”, criado para “estigmatizar parte da população”.

Ele disse que “combater a pobreza com repressão e multas é chocante em um momento em que o Estado não está cumprindo a obrigação de abrigar pessoas jovens e vulneráveis ou oferecer acomodações de emergência”.

Restando quatro meses para a eleição presidencial, o partido de Sarkozy vem priorizando a segurança e o combate ao crime visando reconquistar os eleitores perdidos para a Frente Nacional, partido de extrema-direita dirigido por Marine Le Pen.


Tradução de PAULO MIGLIACCI

Fonte : Folha de São Paulo 15/12/2011

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