Claudio Daniel.....A classe média (ou, no jargão marxista, pequena burguesia) é
o grupo social intermediário, situado entre a classe operária, que produz a
riqueza, e a burguesia, que é a proprietária dos meios de produção. Pertencem à
classe média os advogados, médicos, professores, jornalistas, gerentes,
escritores, artistas e outros profissionais que não estão ligados diretamente à
produção ou à administração da riqueza. Historicamente, sempre que há uma
situação de crise revolucionária, parte da pequena burguesia se alia aos
trabalhadores e assume a ideologia socialista e outra parte (majoritária) se
alia aos patrões e assume a ideologia fascista.Claro: nascer na classe média não faz ninguém
ser bom ou ruim, e sim as suas escolhas políticas e ideológicas. Karl Marx era
pequeno burguês, Engels, filho de empresário, Lênin pertencia a um ramo da
pequena nobreza arruinada, Fidel Castro era de família rica, Che Guevara
pertenceu à classe média... mas todos eles foram revolucionários socialistas
porque escolheram o lado da classe operária.
Carlos Laet de Souza... A classe média também pode ser definida
como a classe auxiliar de Gramsci, sem a qual, a burguesia perderia os seus
gerentes. São a noblesse de robe - a pequena nobreza que estruturava a
burocracia da fase de acumulação de capital. E justamente por serem instruídos,
têm mais facilidade para optar pela esquerda ou direita. Me parece que, pessoas
individualistas que se fixam em construir suas vidas completamente alheias ao
que acontece com seus semelhantes tendem a caminhar para a direita. Os mais
idealistas, que se sentem parte de um destino comum de toda a humanidade e que
não se satisfazem em enriquecer em meio a miséria de muitos, tendem para a
esquerda. Vamos ver eu eu posso ajudar[sobre lumpemburguesia]. O
pensamento de Marx dizia que a humanidade só se propunha a resolver os
problemas que lhe eram postos, não que pudesse resolver todos. Tal ideia tem a
ver com o prefácio da Introdução à Economia Política, quando dizia: uma
formação social não desaparece antes de realizar toda a sua potencialidade e um
novo modo de produção não surge antes que estejam presentes todas as condições
materiais para a sua existência. Escrevi de memória e, portanto, as palavras
guardam este conteúdo mas não são exatas nem na tradução para o português.Quanto ao lumpen proletariat, ele é
constituído de segmentos da classe dominada que se desviaram. São criminosos e
toda a sorte de gente que, por causa das condições sociais e econômicas em que
vivem tornam-se marginais. Marx advertia que o lumpen não era revolucionário.
Eles são inconscientes politicamente. Trata-se do que Robert Merton
classificou, já no século XX, como o inovadores, ou seja, pessoas que comungam
dos valores sociais mas não das formas institucionais para obtê-los. Amam a
propriedade mas não a procuram pelos meios legais, mas pelo crime. Claramente,
não são revolucionários. Este fenômeno, Merton denominava rebelião. Os rebeldes
eram os que não concordavam com a ordem estabelecida e a queriam superar por
meios não institucionais. Estes são revolucionários. Classes perigosas era
forma como os conservadores do início do século XX e século XIX denominavam a
classe trabalhadora como um todo, pois entendiam que seriam propensos ao crime.
Possivelmente, Marx ou Engels usaram este conceito de uma forma evidentemente
distinta.O que há de mais fantástico em Marx e Engels é que foram os cientistas
sociais - em sentido amplo - que mais inovaram. Eles tinham um raciocínio
profundo e que ultrapassava tudo que se pensava na época. Ninguém inovou tanto.
A ideia da economia como motor da história foi revolucionária e mudou a
concepção da história. No fundo, a escola dos Annales não fez mais do que
substituir a concepção idealista pela economicista. Mas o que eu acho mais
fantástico nos dois era a forma como eles pensavam mais de um século a frente.
Sobre isto, peço licença para contar minha experiência pessoal. Quando eu
estudava direito no Rio, li o Manifesto Comunista de 1848. Na época não
concordei com o ponto de vista de acerca dos costumes sexuais, tais como
virgindade etc. Na verdade, eu era um machista ignorante que ainda espelhava a
concepção preconceituosa dos anos 70. Hoje eu penso como Marx e Engels, os
primeiros feministas da história, puderam, em meados do século XIX, estarem tão
mais avançados do que eu na década de 70 do século XX. E hoje, todos sabemos
que eles estavam certos. A ideia de que a primeira propriedade privada foi a
esposa é simplesmente genial e ultrapassa tudo que se pode esperar das mentes
mais talentosas. Os dois estão séculos a nossa frente.
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