sábado, 11 de janeiro de 2014

Classe Média,lumpemproletariado e lumpenburguesia

Claudio Daniel.....A classe média (ou, no jargão marxista, pequena burguesia) é o grupo social intermediário, situado entre a classe operária, que produz a riqueza, e a burguesia, que é a proprietária dos meios de produção. Pertencem à classe média os advogados, médicos, professores, jornalistas, gerentes, escritores, artistas e outros profissionais que não estão ligados diretamente à produção ou à administração da riqueza. Historicamente, sempre que há uma situação de crise revolucionária, parte da pequena burguesia se alia aos trabalhadores e assume a ideologia socialista e outra parte (majoritária) se alia aos patrões e assume a ideologia fascista.Claro: nascer na classe média não faz ninguém ser bom ou ruim, e sim as suas escolhas políticas e ideológicas. Karl Marx era pequeno burguês, Engels, filho de empresário, Lênin pertencia a um ramo da pequena nobreza arruinada, Fidel Castro era de família rica, Che Guevara pertenceu à classe média... mas todos eles foram revolucionários socialistas porque escolheram o lado da classe operária.

Carlos Laet de Souza... A classe média também pode ser definida como a classe auxiliar de Gramsci, sem a qual, a burguesia perderia os seus gerentes. São a noblesse de robe - a pequena nobreza que estruturava a burocracia da fase de acumulação de capital. E justamente por serem instruídos, têm mais facilidade para optar pela esquerda ou direita. Me parece que, pessoas individualistas que se fixam em construir suas vidas completamente alheias ao que acontece com seus semelhantes tendem a caminhar para a direita. Os mais idealistas, que se sentem parte de um destino comum de toda a humanidade e que não se satisfazem em enriquecer em meio a miséria de muitos, tendem para a esquerda. Vamos ver eu eu posso ajudar[sobre lumpemburguesia]. O pensamento de Marx dizia que a humanidade só se propunha a resolver os problemas que lhe eram postos, não que pudesse resolver todos. Tal ideia tem a ver com o prefácio da Introdução à Economia Política, quando dizia: uma formação social não desaparece antes de realizar toda a sua potencialidade e um novo modo de produção não surge antes que estejam presentes todas as condições materiais para a sua existência. Escrevi de memória e, portanto, as palavras guardam este conteúdo mas não são exatas nem na tradução para o português.Quanto ao lumpen proletariat, ele é constituído de segmentos da classe dominada que se desviaram. São criminosos e toda a sorte de gente que, por causa das condições sociais e econômicas em que vivem tornam-se marginais. Marx advertia que o lumpen não era revolucionário. Eles são inconscientes politicamente. Trata-se do que Robert Merton classificou, já no século XX, como o inovadores, ou seja, pessoas que comungam dos valores sociais mas não das formas institucionais para obtê-los. Amam a propriedade mas não a procuram pelos meios legais, mas pelo crime. Claramente, não são revolucionários. Este fenômeno, Merton denominava rebelião. Os rebeldes eram os que não concordavam com a ordem estabelecida e a queriam superar por meios não institucionais. Estes são revolucionários. Classes perigosas era forma como os conservadores do início do século XX e século XIX denominavam a classe trabalhadora como um todo, pois entendiam que seriam propensos ao crime. Possivelmente, Marx ou Engels usaram este conceito de uma forma evidentemente distinta.O que há de mais fantástico em Marx e Engels é que foram os cientistas sociais - em sentido amplo - que mais inovaram. Eles tinham um raciocínio profundo e que ultrapassava tudo que se pensava na época. Ninguém inovou tanto. A ideia da economia como motor da história foi revolucionária e mudou a concepção da história. No fundo, a escola dos Annales não fez mais do que substituir a concepção idealista pela economicista. Mas o que eu acho mais fantástico nos dois era a forma como eles pensavam mais de um século a frente. Sobre isto, peço licença para contar minha experiência pessoal. Quando eu estudava direito no Rio, li o Manifesto Comunista de 1848. Na época não concordei com o ponto de vista de acerca dos costumes sexuais, tais como virgindade etc. Na verdade, eu era um machista ignorante que ainda espelhava a concepção preconceituosa dos anos 70. Hoje eu penso como Marx e Engels, os primeiros feministas da história, puderam, em meados do século XIX, estarem tão mais avançados do que eu na década de 70 do século XX. E hoje, todos sabemos que eles estavam certos. A ideia de que a primeira propriedade privada foi a esposa é simplesmente genial e ultrapassa tudo que se pode esperar das mentes mais talentosas. Os dois estão séculos a nossa frente.


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