terça-feira, 6 de novembro de 2012


A poesia, como disse Antônio Machado, é palavra no tempo. Cada poeta dá testemunho na terra, de coração aflito, do milagre de um único encontro: o encontro com o seu rosto. Um rosto feito de mil rostos, onde cada ser poderá reconhecer-se. Temporal, por excelência, a palavra do poeta é uma palavra preocupada. Ele sabe que o seu trabalho é preservar, sem os corromper, uns sinais que, apesar de frágeis, têm a força prodigiosa de revelar o homem ao homem Como continuar tão delicada e preciosa tarefa? Como erguer a voz sem que se torne eco de qualquer superstição? Cada poeta acabará por descobri-lo sozinho, com alegria e angustia, pois ninguém aqui o pode ajudar. Entre obediência e rebeldia, entre norma e transgressão, caminhará inseguro, sabendo que tudo lhe é permitido para aumentar a herança e tudo lhe é interdito para a dissipar

(Eugênio De Andrade)

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