Frédéric Keck
392 páginas
ISBN: 9788578660819
Tradução: Vera Ribeiro
Ao longo da história, o exercício da antropologia admitiu
duas abordagens bem diferentes. Exemplo da primeira foi Sir James Frazer
(1845-1941), homem de vasta erudição que procurou observar o mundo em grande
escala, a partir dos livros, sem ter contato direto com a vida dos povos
primitivos que descreveu. Exemplo da segunda foi Bronislaw Malinowski
(1884-1942), cuja obra se baseou em pesquisas que realizou pessoalmente,
durante quatro anos, em uma minúscula aldeia da Melanésia.
Claude Lévi-Strauss (1908-2009) experimentou os dois
caminhos. Foi um intelectual da tradição erudita de Frazer, mas não buscou
construir uma obra detalhista e enciclopédica; fez trabalho de campo como
Malinowski, mas não compartilhou tão extensamente a vida cotidiana dos povos
que estudou.
Nomeado professor de filosofia na França em 1931,
Lévi-Strauss veio para o Brasil em 1935 para ensinar sociologia na Universidade
de São Paulo e pesquisar povos indígenas. Não pretendia descrever sociedades
específicas, e sim compreender melhor o espírito humano. Suas observações sobre
estruturas de parentesco, mitos e sistemas primitivos de classificação
levaram-no a fundar a antropologia estrutural.
O que chamou de "estruturas" não são realidades
empiricamente observáveis, mas construções intelectuais abstratas que pretendem
tornar inteligível o real. Para ele, a cultura funciona como uma linguagem e a
vida social é um sistema de signos. Assim como o indivíduo falante não é capaz
de explicar os mecanismos da língua que usa, os integrantes de uma sociedade
também desconhecem a natureza profunda das práticas sociais em que estão
imersos.
Daí a simetria entre as duas disciplinas: a linguística
procura encontrar os princípios gerais que se escondem atrás da diversidade das
línguas, enquanto a antropologia estrutural busca desvelar as propriedades
fundamentais que são comuns às culturas humanas. Para isso, é inútil acumular
observações sobre fatos, pois elas nunca serão exaustivas. É preciso selecionar
os elementos mais significativos e analisá-los extensa e cuidadosamente,
construindo modelos que nos permitam compreender todos os fenômenos do mesmo
tipo. O que se busca é descrever os aspectos inconscientes da existência
social, tendo em vista evidenciar os elementos universais do pensamento humano
e as leis gerais do nosso comportamento.
A antropologia estrutural de Lévi-Strauss renovou a antiga
disciplina e interligou todas as ciências sociais, com evidentes implicações
filosóficas. Teve enorme impacto no mundo inteiro. Despertou polêmicas,
destacadas nesta Introdução, mas é unanimemente considerada como um monumento
intelectual do século XX.
César Benjamin
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